Com o tema Mulheres que Inspiram, Bloco da Preta irá desfilar domingo, 16, no Centro do Rio: 'É a celebração das minhas conquistas'

Preta Gil celebra em bloco a vitória da representatividade: ‘Eu chorei, lutei, venci. A luta valeu!

No domingo, 16, Preta Gil vai colocar o Bloco da Preta pela 11ª vez na rua. A concentração será às 8h e a saída do trio com a cantora e sua corte a partir das 9h, no Centro do Rio. O tema desse ano - Mulheres que Inspiram - é uma homenagem ao lugar de destaque e empoderamento que as mulheres vêm conquistando na sociedade em um movimento do qual Preta, há 20 anos, foi uma das precursoras. Para 2020, a artista se reuniu com integrantes dos blocos Mulheres Rodadas, Mulheres de Chico, Bloconcé e o grupo Samba Que Elas Querem para gravar uma homenagem a Chiquinha Gonzaga.


“Esbarrei em tantos obstáculos e críticas! Foi uma enxurrada tão grande de moralismo, de preconceito, de racismo, de gordofobia... Ao enfrentar tudo isso de uma maneira muito real e verdadeira, eu sofri, chorei, lutei, venci, comemorei. Hoje posso dizer: a luta valeu!”, avalia a cantora de 45 anos.

Casada com Rodrigo Godoy, mãe de Francisco de seu primeiro casamento com o ator Otávio Müller, e avó de Sol Maria, a cantora já começou a maratona de Carnaval. O primeiro compromisso foi no dia 2, quando Preta foi convidada para ser musa do Bloco do Copacabana Palace. Depois de cumprir uma enorme agenda de shows, o Bloco só se recolherá dia 1º de março, após uma apresentação no Ibirapuera, em São Paulo.


“Terei só cinco dias de descanso. Emendarei no trabalho e, em junho, passarei 45 dias com toda a minha família na Europa. Iremos fazer uma turnê de 15 shows com meu pai (o cantor Gilberto Gil), onde iremos nos apresentar com ele no palco. Flor (filha de Bela Gil) é a estrela! ”.


Bloco da Preta

“Este ano o tema do bloco será Mulheres que Inspiram. Temos uma luta e temos que celebrar as nossas conquistas. Percebo mulheres que falam: ‘Essas feministas chatas!’. Elas não entendem que essas conquistas, inclusive o direito delas nos chamarem de chatas, se devem a outras mulheres que lutaram por isso: o direto delas votarem, de serem livres para se separar, de casarem de novo, de viajar... A gente esquece que anos atrás as mulheres precisavam de autorização para sair do Brasil desacompanhadas do marido. A luta feminista se dá muitas vezes nas pequenas coisas que as mulheres que ainda não entendem.”


Representatividade

“O tema do bloco é como se fosse a celebração da minha luta. Há 20 anos, quando comecei na carreira esbarrei com tantos obstáculos e críticas! Foi uma enxurrada tão grande de moralismo, de preconceito, de racismo, de gordofobia... Ao enfrentar tudo isso de uma maneira muito real e verdadeira, eu sofri, eu chorei, eu lutei, eu venci, eu comemorei. Hoje posso dizer: a luta valeu!”


Vida

“Sempre fui feliz. Tive percalços para chegar até aqui, mas na vida todo mundo tem. Eu era muito feliz quando lancei meu disco e fiz as fotos nuas para divulgá-lo (o primeiro disco de Preta, “Prêta-Porter”, em 2003). Foi agregado a mim uma série de sentimentos que eu não tinha, como a insegurança. Muitas vezes caí em uma cilada por causa disso. Por isso que a gente tem que estar atenta e forte aos nossos valores. Agradar ao outro por causa do outro, se enquadrar em padrões por causa do outro, se enquadrar em normalidades estéticas, morais, comportamentais, isso é a sociedade. A gente estipula padrões para limitar as pessoas, para enquadrar todo mundo num círculo. A liberdade amedronta poderes, sistemas. Ela amedronta tudo. Você não pode ser gay, tem que ser hétero. Você não poder ser gordo, tem que ser magro. É muito mais fácil você trabalhar esse sistema de exclusão na sociedade do que o da inclusão. A maioria se sente poderosa, privilegiada e se fortalece ao excluir o outro”.

Sol de Maria, a neta

“A Sol é criada da maneira como eu fui criada. Com liberdade, respeito, essas coisas estão no DNA das famílias. Passaram-se quase 45 anos e não tem uma fórmula nova, mágica. A fórmula é o amor e o respeito sempre. Esses dois ingredientes em qualquer geração vão dar sempre certo. A Sol é uma menina que respeita as pessoas, os outros do jeito que são. Nunca nada foi dito a ela que é proibido. Um casal de amigos gays nunca foi proibido de se beijar na frente dela. Eu fui criada assim. Fui criada com pessoas de todas as classes sociais, credos, gêneros, opções. Ela é criada da mesma forma que eu criei o meu filho, Francisco: sempre aprendendo a respeitar a diferença”.


Bela Gil

“Bela com certeza é uma luz na vida da gente. Ela traz temas como a questão do lixo. Você passa um dia na casa da Bela e você se assusta. Ela não produz lixo! Não tem lixo na casa dela. No supermercado ela não tira nenhuma mercadoria que tenha embalagem plástica. Tudo na casa dela é de bambu, coco, mandioca e é biodegradável. Quando olho o lixo que produzo na minha casa e o que ela produz na dela, é nítido que ela é um ser consciente e melhor do que eu. E eu vou ficar para trás? Não! Tenho que me policiar para ser um ser humano melhor. Pessoas como a Bela são expoentes muito importantes nessa revolução e ela, como eu, é um abre-alas nesse assunto. Quando ela chegou ao Brasil falando sobre sustentabilidade, as pessoas a xingavam: ‘Essa menina é louca!’, ‘Quem é esse ET?’, ‘De onde ela veio?’. Quando ela mostrou pela primeira vez a marmita da escola da Flor (primogênita de Bela Gil), ela foi execrada. Hoje em dia têm mães que fazem marmitas veganas naturebas para vender para outras mães. Por isso que digo: representatividade é a coisa mais importante na vida de um ser humano”.


Haters

“Hoje lido naturalmente com eles. Para começar, a gente tem que conhecer essas pessoas e eu sei quem elas são. O primeiro sentimento que tenho verdadeiramente por eles é compaixão, não é nem pena. O que essa pessoa não tem que eu tenho? Não é dinheiro, não é fama. Essa pessoa não tem autoestima, não tem informação, não tem amor, não tem profissão, realização. Normalmente essas pessoas são frustradas, são pessoas tristes, que não se aceitam. Existem, sim, pessoas que não gostam de mim. Ok, essas pessoas existem e vivem normalmente: não vão ao meu bloco, não vão ao meu show, não gostam da minha música e está tudo certo. Agora a pessoa que se dá ao trabalho de entrar em uma rede social minha para me xingar, de entrar num comentário de uma matéria e falar atrocidades, essa pessoa merece a minha compaixão e oro por ela, de verdade, para que ela se encontre e evolua. Já passei da fase da raiva. Realmente eu fico triste quando vejo mulheres fazendo isso, porque existe um movimento muito forte no mundo de empatia, de sororidade, duas palavras que estão muito na moda, mas que não chegaram para muitas pessoas por uma questão estrutural e cultural da sociedade. Elas foram criadas para se odiar, para competir com as outras mulheres. Como rompe com isso tudo? É um trabalho de formiguinha”.


Autoestima

“Eu construí a minha autoestima vivendo, passando por tudo isso. Sendo igual a elas (influencers) e sendo infeliz. Tomando todos os remédios que elas tomam e sendo infeliz. Fazendo todas as lipos que elas fazem e sendo infeliz. Eu caí nessas armadilhas também. Na minha época a falta de representatividade era tão grande que eu não me enxergava. Eu não me via nos lugares. Era mais fácil me igualar a elas para ser amada e ser aceita. Eu tentei. Fui magra, já tive menos 30 quilos do que tenho hoje; já fui malhada, já fui tudo e não valeu a pena porque a minha essência não está nessa busca, nesse culto ao corpo. Hoje, sim, eu busco ter uma vida mais saudável, principalmente nesse período de Carnaval. Têm certos exageros que não posso mais fazer. Aprendi a gostar de mim do jeito que eu sou. Fui criada e estimulada a vida inteira a não gostar de mim do jeito que eu era. Na realidade, quando eu era mais nova, era uma menina magra. Depois que meu filho nasceu, tive que tirar a vesícula e engordei quase 30 quilos. Quando eu era gordinha, mais nova, eu me amava e me achava bonita, não tinha problema. Comecei a cair nessa armadilha depois que me tornei uma pessoa pública. Desde então a minha busca é pelo equilíbrio. A gordofobia é uma crueldade impregnada na sociedade que adoeceu muitas mulheres”.

Alimentação para o Carnaval

“A Bela me ajuda. Estou fazendo uma dieta para cumprir a rotina de carnaval e também para melhorar as taxas, o ânimo, a energia. Têm alimentos que te tiram a energia e ela me passou uma dieta para aguentar a maratona. Posso comer à vontade, mas os alimentos bons para o meu momento. Ela incluiu inhame (Bela adora inhame!), tirou a massa e a fritura. Posso comer carne, tudo. Mas tenho que comer mais legumes, vegetais, gorduras boas como salmão, abacate. Essas coisas todas não estão muito no meu paladar, não. Sou mais do fast food, da pizza, mas até isso ela deixa. Minha cozinheira, Márcia, foi treinada pela equipe da Bela. Se você comer na minha casa nem parece que está comendo coisa saudável. É real! Deixa o estrogonofe com batata frita para depois do Carnaval”.