SÃO JOAQUIM DE BICAS

Filial de igreja suspeita de manter integrantes como escravos é investigada em Minas desde 2009

greja Ministério Verbo Vivo, em São Joaquim de Bicas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, associada a igreja Word of Faith Fellowship, Associação da Palavra da Fé em português, denunciada por manter integrantes como escravos, é investigada pelo Ministério Público de Minas Gerais desde 2009. Em setembro daquele ano, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) promoveu audiências para ouvir vítimas que denunciaram agressões físicas e psicológicas a membros e estudantes de uma escola mantida pela entidade.

Reportagens da agência de notícias Associated Press denunciaram que a igreja Word of Faith Fellowship, Associação da Palavra da Fé, em português, submeteu 16 brasileiros a trabalho escravo. As histórias vieram à tona em uma investigação sobre a instituição, sediada na Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

Em setembro de 2009, vítimas da Igreja Ministério Verbo Vivo denunciaram que sofreram violências dentro da instituição, entre eles cárcere privado e lavagem cerebral. Os vários ex-membros foram ouvidos em audiência pública e reunião secreta pela Comissão de Direitos Humanos da ALMG. À época, a comissão era presidida pelo deputado Durval Ângelo (PT).

Os relatos foram encaminhados para a Polícia Civil, que abriu um inquérito. O resultado das investigações foi encaminhado para a Justiça e, segundo a corporação, não existe mais nenhum procedimento contra a instituição atualmente.

O Ministério Público confirmou a existência de um inquérito civil na Promotoria de Justiça de Igarapé, também na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para investigar a Escola Cristã Verbo Vivo, vinculada à Igreja Verbo Vivo de São Joaquim de Bicas. A investigação está sob sigilo e nenhuma informação divulgada.

G1 tentou contato com a Igreja Ministério Verbo Vivo, mas nenhuma ligação foi atendida.

Relatos na audiência pública em setembro de 2009

Em setembro de 2009, uma das pessoas ouvidas na audiência pública foi um ex-pastor da Igreja Verbo Vivo. À época, ele disse seus dois filhos sofreram lavagem cerebral e que estava sem contato com eles desde janeiro daquele ano.

Ele contou que teve notícias que os dois haviam sido enviados para a sede da igreja nos Estados Unidos, mas outra informação dava conta que eles estavam em São Joaquim de Bicas, morando na casa de um dos membros. Em um telefonema, um dos filhos chegou a dizer que não queria ser mais procurado pela família.

Na audiência pública, de acordo com registros da ALMG, vários ex-alunos da escola contaram sobre maus-tratos sofridos por dirigentes da instituição. Os jovens contaram que a punição a “conduta errada” era chamada de “vara de correção”.

Entre os “pecados” considerados pela instituição estavam andar com as mãos nos bolsos, assistir à televisão, ouvir rádio, frequentar cinema, academia ou clube, beber guaraná porque a cor da bebida se assemelha à cerveja e participar de festas, mesmo em família.

Uma das vítimas ouvidas pelos deputados disse que, diante dos castigos aos quais foi submetida, ainda sofria de incontinência urinária.

Os ex-alunos ainda denunciaram, na audiência, métodos educacionais da escola. Eles disseram que eram proibidos temas como educação sexual, genética e literatura porque, segundo a igreja, “os escritores eram inspirados no demônio”.

De acordo com a ALMG, um pastor da Igreja Verbo Vivo acompanhou a audiência pública, mas foi acusado por presentes de estar anotando o nome dos depoimentos. Ainda segundo a comissão, ele recusou o convite de se manifestar.