Clientes da Cemig podem enviar a leitura sozinhos para a empresa

Sustos na conta de energia elétrica preocupam consumidores em tempos de pandemia

Desempregada, a autônoma Ana Carvalho, de 53 anos, se assustou quando recebeu a conta de energia elétrica referente ao mês de abril. A fatura de maio tinha um valor cerca de R$ 50 maior em relação ao normalmente cobrado. Segundo ela, o leiturista não verificou o relógio do prédio em que ela mora, em Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, antes de definir o consumo do mês.

Situação parecida ocorreu com o empresário Rafael Rodrigues Cândido. Com academias em Itaúna, Pará de Minas e Divinópolis, na região Centro-Oeste do Estado, ele esperava um abatimento nas contas de energia elétrica, afinal, teve que ficar com o negócio fechado por dois meses. Porém, não foi isso que aconteceu, já que as cobranças vieram com valores similares aos anteriores.

O susto de Ana e Rafael se tornou comum a muitos mineiros, e isso os levou a questionar os valores praticados pela Cemig durante esta pandemia de coronavírus. A explicação veio, mas ainda é contestada. Como precaução contra a proliferação da infecção, os trabalhadores da companhia energética foram reduzidos e, em muitos casos, deixaram de fazer a visita para medição, optando por se fazer a cobrança baseada na média de consumo dos últimos 12 meses. A companhia recomenda, aliás, que os consumidores façam a leitura do próprio padrão e encaminhem os valores encontrados por meio do site da empresa, por WhatsApp ou pelo aplicativo Cemig Atende.

Apesar dessa recomendação, Ana Carvalho conta que só recebeu um folheto comunicando a possibilidade de informar a leitura neste mês. O leiturista, de acordo com ela, não teria interfonado no prédio no dia da emissão da conta. “Ninguém fez a leitura aqui, no prédio. Nós sabemos porque não bateram em nenhum dos apartamentos pedindo para entrar. O leiturista colocou as contas na caixa com uma média de consumo. Mas, normalmente, pago em torno de R$ 190 e R$ 200, nunca passa de R$ 210. Neste mês me cobraram R$ 267,28”, detalha.

Com ela, no apartamento no bairro Ana Lúcia, vive também a filha estudante, e o espanto com a conta foi ainda maior porque as duas têm costume de permanecer por muito tempo em casa e suas rotinas domésticas sofreram poucas alterações após o começo do isolamento social. “Todos os moradores do prédio reclamaram dos valores praticados este mês. Um casal de idosos que mora aqui recebeu uma conta com valor R$ 70 acima do normal. Olha que eles costumam, há muito tempo, permanecer em casa. Ele é caminhoneiro aposentado, e ela é professora aposentada, os dois não saem nunca”, comenta. 

Agora, para a leitura do mês de maio, ela encaminhará os valores do relógio pela internet para a Cemig. “Junto com a conta deste mês recebemos um folheto explicativo sobre como podemos mandar a leitura para a Cemig. Ele explica que, antes do leiturista vir, preciso descer até o relógio e marcar meu consumo. Escaneio para, então, mandar para a Cemig. Eles só entregaram esse papel agora”, critica. 

Já Rafael afirmou que só soube dessa possibilidade ao ter a infeliz surpresa com os valores cobrados, o que o forçou a ligar para a central de atendimento ao consumidor. "Só então eu soube dessa questão da média, fiquei mais de 40 minutos na espera para reclamar, e a atendente riu e afirmou que não poderia fazer nada", informou, indignado. Segundo o empresário, há leitores tanto internos quanto externos em sua rede, mas, mesmo assim, a prática adotada em todas foi a da média anual.

"Depois disso entrei em contato com meu advogado, ele foi atrás da Cemig e recebeu a informação de que, nos próximos meses, esses valores pagos podem ficar como crédito por aquilo que não usei. Só que é justamente agora que precisamos de um refresco, não faturei quase nada em dois meses e não precisava de crédito, mas sim de ajuda. Faltou bom senso", reclamou.

Reclamações no Procon-MG

A Cemig orienta que aqueles consumidores que se sentirem lesados pelos valores cobrados nas contas pela média procurem diretamente os canais de atendimento da companhia para esclarecer dúvidas. Apesar de haver algumas reclamações a respeito da quantia cobrada em maio, o Procon de Minas Gerais informou que não recebeu uma quantidade significativa de denúncias. 

“O Procon não tem recebido um número expressivo de reclamações no que diz respeito a diferenças nas contas de energia elétrica. Existem vários fatores que podem determinar uma modificação abrupta da conta. Houve determinado período em que a leitura pôde ser feita na forma não presencial e, dessa forma, ela pode ter sido feita por estimativa e pela média das últimas contas. Por isso pode ter gerado alguma distorção, no entanto tudo pode ser observado pelo consumidor”, esclarece o promotor Paulo de Tarso Filho. 

Em tempos normais, as reclamações podem ser registradas diretamente na sede do Procon-MG, na rua dos Goitacazes, número 1.202, no Barro Preto. Contudo, em função da pandemia de coronavírus, o atendimento é feito pelo telefone (31) 3250-5010 ou pelo e-mail procon@mpmg.mp.br.